quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

PRECISAMOS DE UM DENG, MAS TEIMAMOS COM MAO



*Hamilton Bonat



Até 2025, a demanda por energia irá duplicar na China. Ela passará a consumir 25% da energia mundial. Pode parecer exagero, mas não é, principalmente se levarmos em conta que, durante 18 dos últimos 20 séculos, ela produziu uma parcela do PIB mundial maior do que qualquer sociedade ocidental.
Compreender a história da China não é nada fácil. Trata-se de uma civilização que se origina numa antiguidade tão remota, que são baldados os esforços para descobrir onde iniciou. Sabe-se que o “Império do Meio” entrou em declínio no século XIX. Em parte, por culpa da autoconfiança dos seus dirigentes, que o consideravam o centro da humanidade, portanto, imune às ameaças dos povos bárbaros, como chamavam os demais. Consideravam-na uma civilização tão sofisticada, que nada teria a aprender. As outras que fossem lá para copiá-la.
Entendia que todo o extremo oriente era seu. Mas os vizinhos, especialmente o Japão, os países do sudeste asiático, a Manchúria Exterior e a Mongólia Exterior, negavam-se a se subjugar. Ao norte, a Rússia representava uma terrível e histórica ameaça.
Sua visão sinocêntrica, até certo ponto ingênua, acabou sendo fatal. Enquanto os japoneses, que também consistiam uma sociedade fechada, por temor ao dragão que morava a apenas 200 km de sua pequena ilha, resolveram abrir-se e aprender com os estrangeiros, a China se manteria isolada durante séculos.
Quando sentiu que os europeus, a quem consideravam os bárbaros do leste, a ameaçavam, tentou empregar, mas sem sucesso, a estratégia de usar “bárbaros contra bárbaros”. Sofreu muito com a guerra do ópio e com as invasões japonesas. Não se conforma até hoje com a perda para a Rússia de ampla fatia da Mongólia Exterior, onde se situa o porto de Vladivostok.
A mesma Rússia ajudaria a derrubar o já combalido regime republicano, que, em 1911, havia substituído a última dinastia imperial. Após intensa guerra civil apoiada pelos soviéticos, o Partido Comunista Chinês chegaria ao poder em 1949. Os russos acreditaram terem, enfim, controlado a China, o que seria realidade até certo tempo. Mao Tsé Tung, aos poucos, foi percebendo que Nikita Kruschev se portava mais como o costumeiro ameaçador urso do que como um bom camarada.
Sob Mao, os chineses continuariam isolados dos bárbaros, até mesmo os de Moscou, que pretendiam impor sua hegemonia ideológica. Quando, em 1955, a União Soviética criou o Pacto de Varsóvia, Mao se recusou a tomar parte. A China não iria subordinar a defesa de seus interesses nacionais a uma coalizão. Ante a ameaça de milhões de tropas russas desdobradas ao longo da extensa fronteira norte, Mao acabaria se aproximando dos americanos.
Se no passado, usar “bárbaros contra bárbaros” havia sido uma estratégia, Mao, para se manter no poder, usaria chineses contra chineses. Lançando uns contra os outros, implantou o terror interno, até chegar à Revolução Cultural, uma verdadeira carnificina humana.
Deng Xiaoping (foto), apesar de ter sido preso e exilado várias vezes, conseguiu sobreviver. Embora tivesse ideias diferentes, expressava-as reservadamente, pois era inteligente o bastante para não contrariar Mao em público. Esperou sua morte para chegar ao poder e implementar as reformas. Certa vez, conversando com cientistas australianos, disse que a China era um país pobre, necessitado de mudanças científicas e de aprendizado com países avançados, comentário sem precedentes para um líder chinês. Enviou milhões para estudar no exterior, a fim de criar as bases para a inovação tecnológica. Abrindo a China para o mundo e investindo em educação e pesquisa, uniu os chineses e criou as condições para que o país voltasse a ser uma potência.
Com os chineses de Deng, poderíamos buscar ensinamentos para deixarmos de ser meros exportadores de commodities. Porém continuamos impregnados pela ideia de Mao de jogar uns contra os outros, enquanto o povo, mantido ignorante, agradece pelo pão que lhe é doado e aplaude os palhaços de um circo quase falido.
Fonte: www.bonat.com.br

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

BOLETIM CULTURAL DA API


Aos Associados

Sob coordenação da Diretoria de Assuntos Culturais, reunimos informações de interesse geral sobre a imprensa, que passaremos a remeter semanalmente aos membros da API. Aceitaremos sugestões e contribuições.


1. CONFRONTO DIA 7
Vence neste dia 7 o prazo para que os grupos de comunicação da Argentina promovam a separação entre seus ativos de forma a reduzir o grau de concentração na mídia, principalmente quanto à propriedade de redes de televisão e rádio. O alvo não declarado da nova lei é o grupo Clarin, que edita o jornal do mesmo nome, considerado como um crítico ácido – e portanto – “inimigo” do governo de Cristina Kirchner. Mas o outro grande jornal platino, “La Nación” também protesta contra o que considera restrição à liberdade de expressão.

2. EXEMPLO DE TOLERANCIA
A propósito, destaque para o exemplo de tolerância do jornal Gazeta do Povo. No último dia 29 o veículo publicou editorial criticando a manifestação programada em Curitiba em favor do ex-ministro José Dirceu, condenado pelo Supremo no processo do “Mensalão”, sob o titulo “Desagravo inoportuno”. No sábado, dia 1° de dezembro, acolheu na mesma página de opinião o artigo “Liberdade Ameaçada”, de um professor de Filosofia da UFPR, que protestava contra as afirmações daquele artigo de fundo. Luiz Moutinho reclamava que o ato seria “em defesa do livre pensamento e expressão” – um direito democrático “que não pode ser cassado”. O jornal aceitou a ponderação, publicando a resposta, num belo exercício de liberdade de expressão.

3. FALA, GABEIRA
Quem também se expressou, escrevendo, foi o ex-guerrilheiro, ex-exilado e ex-deputado Fernando Gabeira. Que não deseja ser visto como também ex-jornalista, por estar retornando à profissão após 50 anos de militância na vida política – esquerdista, defensor da luta armada, parlamentar e cronista de costumes. Essa trajetória vem no livro “Onde está tudo aquilo agora?” em que Gabeira reconta fatos que ficam de fora do “bestseller” anterior: “O que é isso companheiro?” Se na obra famosa Gabeira apresentou o período de luta armada, agora reconta a biografia mais amena de menino mineiro de Juiz de Fora até sua passagem pela ecologia – que confessa ser um substituto do marxismo militante – e o desapontamento com o mandato de congressista. Afinal, lidar com a rotina sob o regime democrático não pode mesmo agradar a um rebelde.

4. NA INGLATERRA, PRESSÃO
Na Grã-Bretanha e na esteira do escândalo do jornal sensacionalista “News of the World” – que o polêmico Rupert Murdoch foi levado a fechar – um relatório oficial pede controle da imprensa. O documento, apresentado por uma comissão de notáveis liderada por um juiz sênior, recomendou a criação de uma instância com poder de multar veículos por conduta supostamente irregular. Envolto em amenidades, o estatuto propõe um conselho de auto-regulamentação, voluntário entre aspas (quem não aderir fica sujeito a outras sanções), que vai na contramão de uma liberdade desfrutada pela imprensa inglesa há mais de 300 anos. Num sinal de controvérsia, enquanto o premier David Cameron se pôs contra, seu vice-premier, um jovem político chamado Nick Clegg, se declarou a favor da polêmica iniciativa. Que dificilmente passará numa Inglaterra que foi a pátria de pensadores da liberdade e da tolerância, como John Locke, David Hume, Stuart Mill e Bertrand Russel.

5. MORREM JOELMIR E PIGNATARI
A imprensa perdeu, no período, dois ícones da profissão: Joelmir Beting, pioneiro do jornalismo econômico descomplicado e Décio Pignatari, professor de comunicação e pensador de escol. Joelmir - filho de imigrantes do interior paulista -, iniciando a carreira pelo jornalismo esportivo, logo se deslocou para a página de economia e o comentário de tevê – com um sucesso de décadas. Pignatari – outro filho da imigração do café -, crítico da literatura e da vida urbana nas megacidades como S. Paulo, mudou-se para Curitiba onde residiu durante a última década.  

6. ONU VÊ REDES E INTERNET
Começou em Dubai, na Ásia, a Conferência Mundial sobre Telecomunicações, organizada pela UIT, agência das Nações Unidas. O evento, que se estenderá até a próxima semana, vai discutir a governança das redes de comunicação – notadamente o tráfego de dados via provedores de conteúdo como Google e Facebook e o sistema da Internet. Para o ministro Paulo Bernardo, chefe da delegação brasileira, será difícil fechar um consenso em torno da gestão dessas inovações tecnológicas: atualmente a internet é controlada pela ICANN, organismo baseado nos Estados Unidos – país que detém forte influencia sobre sua governança. O Brasil defende um modelo de neutralidade para a rede, com participação mais plural dos países usuários (inclusive na receita gerada), mas se opõe ao controle estatal via União Internacional de Telecomunicações.

04/12/2012

Rafael de Lala,
Presidente - API – Associação Paranaense de Imprensa
Hélio Freitas Puglielli,
Diretor de Assuntos Culturais da API

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