OS FATOS
Afetado por seu vínculo com o empresário Carlos Cachoeira, preso na operação contra jogos de azar, o senador Demóstenes Torres (DEM-Goiás), deixou a liderança do seu partido, foi denunciado pela Procuradoria da República junto ao Supremo e tornou-se sujeito de representação de partidos nanicos na Comissão de Ética do Senado. O pedido de abertura de investigação não significa que o parlamentar seja culpado (existem apenas indícios veementes, que levaram o procurador geral a solicitar o procedimento inicial), mas a nuvem de suspeição sobre Demóstenes pode significar sua expulsão do Partido e, no limite, a cassação do seu mandato.
ANÁLISE
O inferno astral que atingiu o senador goiano chama atenção, porque Demóstenes era um defensor da moralidade política; pressuroso em denunciar situações e até colegas do Congresso. Nesse sentido ele explicitava o “ethos” profissional – antigo delegado de Polícia, promotor de Justiça e secretario de Segurança. Ter sido flagrado em situações atípicas depõe contra esse puritanismo estrito, que ao final e ao cabo, milita contra a imperfeição da condição humana. Já advertia Shakespeare; “os homens não estão acima dos anjos nem abaixo dos animais”.
2. CAMINHO DAS INDIAS
OS FATOS
Liderando comitiva de ministros e dirigentes empresariais, a presidente Dilma Rousseff viajou para a Índia, em reunião dos BRICS. O quarto encontro do bloco de países emergentes de escala cumpriu uma agenda que inclui a criação de um banco de desenvolvimento, mas cujo foco é a busca de coordenação para atuação conjunta nos foros internacionais. Aproveitando a estada no país asiático, a governante brasileira recolheu experiências e aprofundou contatos com a União Indiana – tendo em conta a semelhança de estágio daquele país com o nosso.
ANÁLISE
O périplo indiano é importante por razões históricas e de geopolítica: nos tempos do Descobrimento, as Índias e o Brasil representavam as partes extremas do império português, tendo aquela nação irradiado influência forte sobre nossa sociedade. Atualmente a Índia também oferece lições: consolidou uma democracia de massas que resiste a turbulências, criou um ambiente favorável para os negócios e, como o Brasil, exibe uma burocracia renitente. Ainda, seus desafios são gigantescos para meramente alimentar uma população sete vezes superior à nossa em território menor. Por isso a urgência dos líderes de Nova Delhi em promover um desenvolvimento que, mesmo cadente, mantém ritmo de 7% ao ano.
3. LEGITIMIDADE
OS FATOS
Na entrevista de capa que concedeu para a Revista Veja a presidente Dilma declarou não haver “crise nenhuma” na área política, porque “perder ou ganhar votações faz parte do processo democrático e (isso) deve ser respeitado”. Aproveitando para rejeitar o conceito de um relacionamento de laços, que se expressa na liberação de cargos e emendas parlamentares em troca de votos no Congresso, Dilma assegurou: “Não gosto desse negócio de ‘toma lá, dá cá’. Não gosto e não vou deixar que isso aconteça no meu governo”. O que, para ela, caracteriza firmeza e não risco à legitimidade.
ANÁLISE (I)
Essa perda de legitimidade– segundo porta-vozes próximos – teria ocorrido no governo Collor, que ao sofrer o impedimento em 1992, enfrentava denuncias de corrupção, o que não ocorre em relação a Dilma. A colocação tenta responder ao alerta feito pelo ex-presidente, de que sofreu o “impeachment” quando perdeu sustentação no Congresso. Aqui cabem duas avaliações: as bancadas partidárias no Congresso e seus dirigentes não estão insatisfeitos com o governo por causa simplesmente de cargos e liberação de verbas de emendas e sim por ausência de dialogo que os associe à função de governar. Segundo, a crise registrada neste segundo ano de mandato não coloca em risco a legitimidade do governo Dilma, porém remete a outras turbulências históricas: de Pedro I a Collor, passando por Deodoro, Floriano, Bernardes e outros menos votados.
ANÁLISE (II)
Sem embargo, para evitar a defensiva, o governo considera prudente ampliar a interlocução com a sociedade. Esse reconhecimento teve inicio na reunião com lideranças empresariais no Palácio do Planalto, seguida pela retomada das entrevistas com a imprensa (matéria da “Veja”) e, na seqüência, restauração do dialogo com as forças políticas representadas no Parlamento. Para isso, noticia-se , foram escalados ministros calejados – Alexandre Padilha, José Eduardo Cardozo e Paulo Bernardo – que, por já terem exercido mandatos, possuem trânsito nas correntes partidárias. Ação válida, para conjugar a aceitação do governo junto à opinião pública e prevenir tempestades – sempre possíveis em cenário incerto.
4. VIÉS SUBDESENVOLVIDO
OS FATOS
Os acidentes ocorridos na exploração do petróleo do Campo do Frade no litoral fluminense, a cargo da empresa multinacional Chevron, despertaram forte reação de autoridades, políticos e ambientalistas. Todos os executivos, engenheiros e operadores daquele campo petrolífero foram denunciados à Justiça, passaportes de técnicos estrangeiros foram confiscados para impedir que eles deixem o país e multas milionárias mais interdições de atividade estão sendo listadas; numa escala que remete aos dados bilionários dessa indústria gigantesca.
ANÁLISE
O alarido relembra tempos de nacionalismo bravio, – sabe-se agora – alimentado pela polarização que dividia o mundo em blocos antagônicos. Porque, descobriu-se, o problema é outro: a exploração de petróleo é atividade de risco, que cresce na medida em que a busca do óleo é dirigida para áreas críticas: campos congelados da Sibéria, Canadá e Alasca, jazidas profundas no oceano, etc. O Brasil – que festejou as descobertas do petróleo do pré-sal – precisa se preparar, com planos de contingência para retirar o produto de camadas situadas a 8.000 metros de profundidade, perfurando rochas maciças – sob altíssima pressão e baixa temperatura. O que, registre-se, demanda cooperação internacional, sendo desaconselhável demonizar empresas dispostas a enfrentar junto conosco tais desafios.
5. PREÇO, VIGILÂNCIA
OS FATOS
Retornando à entrevista da presidente da República no início da semana, Dilma Rousseff referiu que a demissão de uma série de ministros demonstra que não dará “espaço para a fraqueza dos indivíduos”. Mais, “nenhuma pessoa que é chamada para o governo pode achar que haverá algum tipo de complacência, porque não vou transigir com os malfeitos”. Nessa dimensão, quem logrou se antecipar a uma denúncia com potencial negativo foi o governo do Paraná, ao substituir a direção do porto de Paranaguá antes de explodirem denuncias contra a gestão afastada.
ANÁLISE
Nas demissões ocorridas na área federal, alguns ministros saíram “para evitar a superexposição ou se defenderem das acusações” – reconheceu a presidente -; isto é, deixaram os cargos após as denuncias terem vindo à tona, principalmente pela imprensa. Ao aceitar os pedidos de demissão, ou forçá-las em casos de resistência, a presidente operou com efetividade; porém quem “lavrou um tento” foi o governo do Paraná, quando se antecipou em substituir diretores do porto – cirurgia que minimizou o escândalo. Dele nenhum governo está livre: veja-se o que atingiu o premier britânico David Cameron, afetado pela denúncia de que um dirigente de seu partido cobrava para aproximar empresários com o governante.
6. PELA INDÚSTRIA
OS FATOS
Apesar de céticos quanto à concretização de medidas, os lideres da economia saíram satisfeitos do encontro com a presidente Dilma, em Brasília. Na avaliação de porta-vozes, pela primeira vez o problema chegou ao mais alto escalão, reforçando queixas que os empresários formulavam há anos. O interesse do Governo pela questão – que já anunciou uma série de providencias – poderá acelerar a aplicação de corretivos, para estancar a queda da participação da indústria de transformação no PIB nacional. Mas cumpre manter a mobilização, como o grito dos paranaenses em defesa da indústria nacional, marcado para o próximo dia 3 de abril.
ANÁLISE
Medidas de defesa comercial são necessárias, ante a agressividade de concorrentes estrangeiros, após desalinharem o câmbio no mundo, com o “tsunami monetário” dos países centrais em resposta à crise de 2008/10. Mas em paralelo temos que adotar ações para restaurar a capacidade de competição da economia nesta era de globalização: adequar a carga tributária ao nível dos demais países de renda média; modernizar a infra-estrutura via privatizações e regulação eficiente; simplificar o cipoal burocrático tradicional etc. Um exemplo desse viés irracional e ilegítimo – porque gerado por burocratas, sem legitimação do Congresso – é a portaria do ponto eletrônico imposta pelo Ministério do Trabalho, que vai agravar o “custo Brasil” sem beneficiar o trabalhador.
7. SERRA E CURITIBA
OS FATOS
Deu José Serra como pré-candidato a prefeito de S. Paulo, nas prévias celebradas pelo PSDB. Mas o ex-candidato presidencial terá que se esforçar para agregar outras legendas à sua campanha, porque fatalmente um dos adversários em perspectiva se agigantará na jornada que se inicia. Em Curitiba a polarização já está desenhada, com as pré-candidaturas do atual prefeito Luciano Ducci (que concorrerá a um novo mandato) e do ex-deputado federal Gustavo Fruet, pela oposição local.
ANÁLISE
A propósito, nesta semana que marca o aniversário de emancipação da capital paranaense, diversas obras estão sendo inauguradas ou lançadas pela Administração Ducci; beneficiada pela parceria com o governador Beto Richa (PSB, PDT, DEM, etc). Alguns setores da oposição reclamam desse relacionamento Prefeitura e Governo do Estado; mas por sua vez o também pré-candidato Gustavo Fruet tem a cobertura das forças congregadas em torno do Governo Federal (PDT, PT e legendas menores, como o PC do B). Correndo por fora, outras forças políticas – notadamente o PMDB, com Rafael Greca e o PSC, com Ratinho Junior.
MISCELÂNEAS
Homenagem pelos 80 anos do ex-deputado Léo de Almeida Neves destacou uma figura pública paranaense que o destino afastou da cadeira de governador, como referiu o jurista René Dotti =/= Deputado federal Ratinho Junior pontificando na liderança do bloco PSC-PTB na Câmara Federal: “O governo tenta fazer média, colocando a opinião pública contra os parlamentares” =/= Barbas de molho no Paraná: o ano vai ser afetado pela quebra de safra, com perdas que sobem a 4 bilhões de reais =/= Marco Maia marcando presença como conciliador na interinidade da Presidência da República. Logrou aprovar duas matérias no Congresso.
Rafael de Lala,
Presidente da API – Associação Paranaense de Imprensa
e pela Coordenação da Frente Suprapartidária do Paraná pela Democracia
e Grupo Integrado de Ações Federativas do Paraná
E-mail: api1934@gmail.com Twitter: @Apimprensa
Contato: (41) 3026-0660 / 3408-4531/ 9167-9233
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